David Hume e o Empirismo

David Hume foi um filósofo, historiador e ensaísta britânico nascido em Edimburgo, na Escócia.
Hume tornou-se célebre pelo seu empirismo radical e o seu ceticismo filosófico.
Segundo o empirismo,  a principal fonte do conhecimento é a experiência. Os elementos do conhecimento são as impressões que tem maior grau de força e vivacidade e as ideias ou pensamentos que são representações das impressões, ou seja, são as imagens enfraquecidas das impressões nunca alcançando a vivacidade, a intensidade e a força destas últimas.
Exemplo: Uma impressão é a cor da flor que os olhos veem. Uma ideia é a memória dessa flor. 
Uma impressão é como por exemplo uma dor de cabeça enquanto vivida; uma ideia é a lembrança dessa dor.
As impressões e as ideias podem ser divididas em simples e complexas. As primeiras são as que não admitem qualquer tipo de separação ou divisão. As complexas são as que podem ser divididas em partes, resultando da combinação das impressões ou das ideias simples.
As ideias simples derivam de impressões simples, mas muitas ideias complexas podem não derivar de impressões complexas. O critério usado para distinguir uma ideia verdadeira de uma ficcção passa a ser a existência ou não de uma impressão que lhes corresponda, embora as ficcções também têm por base, em última instância, as impressões, uma vez que são ideias construídas a partir delas.
A ideia de Deus é uma ideia complexa que tem por base ideias simples e nenhum objecto da experiência sensível lhe corresponde.
Além dos elementos do conhecimento, Hume distingue também dois modos ou tipos de conhecimento: o conhecimento das relações que existem entre as ideias (relações de ideias) e o conhecimento de factos (questões de facto).
Todas as suas ideias têm origem empírica, não dispomos de conhecimento a priori sobre o mundo, mas não significa que não haja conhecimentos a priori, simplesmente esses conhecimentos nada nos podem dizer de substancial acerca do mundo. 
Afirmar que 7 - 5 = 2 é produzir um enunciado independente de factos, daquilo que acontece, da existência ou não dos números 7, 5 e 2. Trata-se de proposições verdadeiras referente à relação entre as ideias em causa. Embora estas ideias não deixem de derivar da experiência, a relação entre elas é independente da experiência.
Estes conhecimentos apresentam carácter evidente, traduzindo-se em proposições necessárias - pois negá-las implica uma contradição (princípio da contradição). Assumem estas características dos conhecimentos da lógica e da matemática. 
São diferentes dos conhecimento referente aos factos, afirmar que está a chover ou que a Terra gira em redor do Sol é apresentar enunciados relativos a factos cuja justificação se encontra na experiência sensível, ou seja, nas impressões. O valor de verdade destas proposições só pode ser determinado recorrendo à experiência.
A certeza das proposições relativas a factos, não se fundamenta no princípio de contradição, já que é sempre possível ou não é logicamente possível afirmar o contrário de um facto. Se dissermos que o Sol não vai nascer amanhã nada nos garante que isso seja  impossível, não é contraditório pensá-lo ao contrário de 1 + 1 = 3.
As questões de facto são proposições não necessárias e sim contingentes.
Os princípios de associação de ideias são os seguintes:
Semelhança Ex: Uma ave desenhada lembra-nos uma ave que vemos voar.
Contiguidade no tempo e no espaço Ex: A lembrança de uma festa leva a pensar nas pessoas que estavam lá. 
Causalidade (causa e efeito) Ex: A água fria posta ao lume (causa) faz pensar na fervura (efeito).

Existem factos que esperamos que se verifiquem no futuro, esperamos que um papel se queime se atirarmos ao fogo ou que alguma coisa se molhe se atirarmos à agua, são verdades contingentes,  relativas a questões de factos e que têm por base uma inferência causal. Até agora, sempre o fogo queimou e sempre a água molhou, logo isso irá verificar-se também no futuro. Queimar e molhar são efeitos cujas causas são respectivamente o fogo e a água.
Essas inferências têm cáracter indutivo. A indução baseia-se em casos passados e antevê casos não observados.
A relação de causa e efeito é geralmente entendida como sendo uma conexão necessária. Acredita-se que determinado efeito se produzirá necessariamente a partir do momento em que existe uma determinada causa.  Porém, não dispomos de qualquer impressão relativa à ideia de conexão necessária entre fenómenos.
Só a partir da experiência é que se pode conhecer a relação entre causa e efeito, é um conhecimento a posteriori.  O que se verifica entre dois fenómenos, eventos ou objectos é uma conjunção constante: um deles ocorreu sempre a seguir ao outro. Isso leva a concluir que entre eles há uma conexão necessária e na opinião de Hume é um erro. Hume apresenta vários argumentos que têm como objectivo provar que a ideia de conexão necessária também não decorre de qualquer impressão interna, o que concluiu-se que não surge em toda a natureza um único exemplo de conexão que possamos conceber.
Então, o nosso conhecimento acerca dos factos futuros não é rigoroso, trata-se apenas de uma suposição ou de uma probabilidade, é uma expectativa.
Contudo, esta certeza tem apenas um fundamento fundamento psicológico que é o hábito e o costume.  É o hábito de ver um facto a suceder a outro que nos leva à crença que sempre vai acontecer aquilo. O hábito é um guia imprescindível da vida prática, mas não constitui um princípio racional.
A inferência causal apenas se pode aceitar quando é estabelecida entre impressões. Hume considera que não se deve recorrer a qualquer tipo de intuição para justificar a existência do eu como substância dotada de realidade permanente. Sendo assim, a crença na identidade é apenas produto da imaginação. Só temos acesso às nossas percepções (impressões e ideias). Logo, afirmar existência de uma realidade que seja a causa  das nossas impressões e que seja distinta delas é desprovido de sentido, é uma crença injustificável. São a coerência e a constância que nos leva a acreditar que há coisas externas, dotadas de uma existência contínua e independente.
David Hume é um céptico metafísico porque considera que as teorias metafísicas procuram ultrapassar o âmbito da experiência e da observação, o que considera inaceitável.
É um céptico mitigado ou moderado porque Hume reconhece as limitações das nossas capacidades cognitivas e a nossa percepção para o erro.
Hume afasta-se do cepticismo radical, porque se duvidássemos de tudo a vida tornava-se insuportável e as ciências não se poderiam desenvolver, já que elas se baseiam nas relações causais que se estabelece entre os fenómenos.

Obras de David Hume: Investigação sobre o Entendimento Humano, Tratado da Natureza Humana, Diálogos sobre a Religião Natural. 

Créditos: Novos contextos - Filosofia Porto Editora

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